Underwater World
Aqui vos deixo mais um testemunho na 1ª pessoa, sobre a importância de estarmos abertos a novas
ideias, aventuras, experiências.
Nunca fui muito de água. Sou daquelas pessoas que pode
passar um dia na praia sem ir ao banho. Acho quase sempre a água gelada e
quando necessário lá dou o meu mergulho relâmpago e saio normalmente a
praguejar.
Quando comecei a viajar para Países cuja temperatura
média da água, é bastante acima da do nosso gélido Atlântico, conheci o prazer
de longas e prolongadas banhocas no mar. O meu problema afinal era mesmo só a
temperatura fria , que efectivamente não
casa bem com a minha tipologia Vata (vim mais tarde a descobrir com alguns
estudos e consultas de medicina
ayurvédica na India ).
Numa viagem à Tailândia experimentei pela primeira vez
snorkling, naquelas praias de postal. Nunca mais esqueci esse primeiro contacto
com o mundo sub-aquático.
No entanto a verdadeira experiência marcante veio vários
anos depois, na minha primeira viagem à Indonésia quando experimentei mergulhar.
Leia-se mergulhar quando se vai de botija de ar às costas
para o fundo do mar, ao contrário de (para quem desconhece), snorkling onde se fica mais à
superfície a respirar por um tudo.
Volto a repetir que , de todas as experiências e sensações
que tive na vida mergulhar foi uma das
mais marcantes. Acho que foi uma paixão instantânea.
Mergulhar, ao contrário do que possa parecer não implica
grande esforço físico. Apenas a primeira parte de toda uma imensa logística
(entre roupas, coletes, botijas e afins) se torna mais aborrecida. Quando se
entra dentro de água tudo fica leve e sentimo-nos
literalmente a flutuar.
De tudo o que mais me encantou foi a sensação que estava a entrar num novo mundo.
Como se estivesse a aterrar noutro planeta, um planeta desconhecido. A diferença
é que este novo mundo está dentro do meu mundo! São portas que se abrem como
nunca antes senti (voltei apenas a sentir algo semelhante numa viagem ao Deserto).
Portas que se abrem para um mundo desconhecido, novo e maravilhoso. Estão a ver
quando a Alice chega pela primeira vez ao País das Maravilhas? É mais ou menos
isso . Um jardim de baixo de água com plantas desconhecidas e cheias de cores.
Plantas com movimentos ondulantes , um
pulsar de vida verdadeiramente harmonioso. Peixes de todas as cores e formatos.
Cardumes coloridos cruzam o meu campo de visão e rapidamente me fixo nos Peixes
Palhaço (de nome mais comum os Nemos),
que se alimentam nos corais. Quanta vida à volta destas plantas, que se
confundem com pedras, que se confundem
com peixes. Quanta cor, quanto movimento aqui em baixo! Alguns peixes maiores
passam indiferentes. Outros parecem curiosos e até mais destemidos, olhando
curiosos para estes desconhecidos enormes “peixes de botija às costas!”. Invade-me uma alegria gigante,
uma sensação que vamos perdendo à medida que crescemos e nos tornamos adultos,
mas que em crianças experimentamos com frequência: a alegria e o espanto da
descoberta, da novidade.
Mergulhar permite-nos de facto entrar em contacto com outra realidade. Dos momentos mais incríveis foi quando mergulhámos
num local de Mantas (semelhantes a raias de enorme dimensão). É uma sensação
indescritível estar a nadar ao lado destes enormes peixes, que passam por nós a
nadar de uma forma delicada, suave parecendo que voam dentro de água.
Também foi incrível ver tartarugas. Que animal pacífico! Sempre
tranquilas , sempre zen. É delicioso ver os buraquinhos do seu nariz virem à
superfície respirar e voltarem para baixo em longos e graciosos mergulhos.
É difícil não se ficar apaixonado por o mundo debaixo de
água.
Além da enorme variedade de coisas maravilhosas que
podemos encontrar no fundo do mar, o mergulho caracteriza-se também por ser um
enorme desafio. Talvez um dos maiores que o ser humano pode experimentar. Isto
porque estamos a respirar artificialmente num mundo que não foi feito para nós.
A primeira vez pode ser assustadora confesso. Quando se
começa a ver o briefing complexo, a quantidade de aparelhos, avisos, cuidados e
sinais que temos de aprender , a mente começa a entrar em pânico. Acho que
neste momento toda a gente pensa qualquer coisa como “mas onde é que eu estava
com a cabeça quando me meti nisto...”.
A primeira vez que se vai para o fundo do mar de botija
de ar às costas, regulador na boca, máscara nos olhos e nariz, acho que todas
as células do corpo começam a entrar em negação. Porque efectivamente se vai
fazer algo que é contra a natureza
humana: respirar de baixo de água. E aqui a mente começa a mandar
mensagens de todos os géneros , “ainda vais a tempo de fugir daqui”, “isto pode
correr mal” “isto é mesmo perigoso”. E é. Por isso é que se torna tão interessante.
Porque depois de se experimentar a primeira vez vive-se uma sensação de desafio
superado. De que transcendemos os nossos limites e os limites daquilo que é
possível um humano fazer.
Para mim (por razões óbvias da minha profissão) foi
curioso analisar este estado mental agitado pelo medo. E trabalhar para o
controlar. Alguns momentos e em alguns
exercícios de treino tem mesmo de se ter uma enorme firmeza e controlo mental.
Depois vem a parte da respiração, e que para mim é
igualmente fantástica observar. Como realmente funciona saber usar uma
respiração tranquila e serena e como isto pode contribuir para estabilizar as
sensações de medo ou pânico. Como podemos usar a respiração para nos
movimentarmos dentro de água mais para cima ou para baixo. Como podemos
controlar o ar que usamos e tornarmos a respiração mais eficiente.
Uma experiência Yogui debaixo de água!
Mais um desafio que nunca imaginei puder
ultrapassar! Mais um desafio que me
mostrou e confirmou como realmente podemos fazer tudo aquilo que queremos e
como somos mais fortes e corajosos que imaginamos.
Por isto tudo que acabo de descrever mergulhar foi uma
paixão que veio tarde na minha vida. Mas, quero crer, nunca é tarde para descobrir uma nova paixão!