sábado, 10 de setembro de 2016

Underwater World

Aqui vos deixo mais um testemunho na 1ª pessoa, sobre a  importância de estarmos abertos a novas ideias, aventuras, experiências.

Nunca fui muito de água. Sou daquelas pessoas que pode passar um dia na praia sem ir ao banho. Acho quase sempre a água gelada e quando necessário lá dou o meu mergulho relâmpago e saio normalmente a praguejar.
Quando comecei a viajar para Países cuja temperatura média da água, é bastante acima da do nosso gélido Atlântico, conheci o prazer de longas e prolongadas banhocas no mar. O meu problema afinal era mesmo só a temperatura  fria , que efectivamente não casa bem com a minha tipologia Vata (vim mais tarde a descobrir com alguns estudos  e consultas de medicina ayurvédica na India ).

Numa viagem à Tailândia experimentei pela primeira vez snorkling, naquelas praias de postal. Nunca mais esqueci esse primeiro contacto com o mundo sub-aquático.
No entanto a verdadeira experiência marcante veio vários anos depois, na minha primeira viagem à Indonésia quando experimentei mergulhar.
Leia-se mergulhar quando se vai de botija de ar às costas para o fundo do mar, ao contrário de (para quem desconhece), snorkling onde se fica mais à superfície a respirar por um tudo.

Volto a repetir que , de todas as experiências e sensações que tive na vida  mergulhar foi uma das mais marcantes. Acho que foi uma paixão instantânea.

Mergulhar, ao contrário do que possa parecer não implica grande esforço físico. Apenas a primeira parte de toda uma imensa logística (entre roupas, coletes, botijas e afins) se torna mais aborrecida. Quando se entra  dentro  de água tudo fica leve e sentimo-nos literalmente a flutuar.

De tudo o que mais me encantou foi  a sensação que estava a entrar num novo mundo. Como se estivesse a aterrar noutro planeta, um planeta desconhecido. A diferença é que este novo mundo está dentro do meu mundo! São portas que se abrem como nunca antes senti (voltei apenas a sentir algo semelhante numa viagem ao Deserto). Portas que se abrem para um mundo desconhecido, novo e maravilhoso. Estão a ver quando a Alice chega pela primeira vez ao País das Maravilhas? É mais ou menos isso . Um jardim de baixo de água com plantas desconhecidas e cheias de cores. Plantas com movimentos ondulantes ,  um pulsar de vida verdadeiramente harmonioso. Peixes de todas as cores e formatos. Cardumes coloridos cruzam o meu campo de visão e rapidamente me fixo nos Peixes Palhaço (de  nome mais comum os Nemos), que se alimentam nos corais. Quanta vida à volta destas plantas, que se confundem  com pedras, que se confundem com peixes. Quanta cor, quanto movimento aqui em baixo! Alguns peixes maiores passam indiferentes. Outros parecem curiosos e até mais destemidos, olhando curiosos para estes desconhecidos enormes “peixes de botija  às costas!”. Invade-me uma alegria gigante, uma sensação que vamos perdendo à medida que crescemos e nos tornamos adultos, mas que em crianças experimentamos com frequência: a alegria e o espanto da descoberta, da novidade.

Mergulhar permite-nos de facto entrar em contacto com  outra realidade.  Dos momentos mais incríveis foi quando mergulhámos num local de Mantas (semelhantes a raias de enorme dimensão). É uma sensação indescritível estar a nadar ao lado destes enormes peixes, que passam por nós a nadar de uma forma delicada, suave parecendo que voam dentro de água.
Também foi incrível ver  tartarugas. Que animal pacífico! Sempre tranquilas , sempre zen. É delicioso ver os buraquinhos do seu nariz virem à superfície respirar e voltarem para baixo em longos e graciosos mergulhos.
É difícil não se ficar apaixonado por o mundo debaixo de água.

Além da enorme variedade de coisas maravilhosas que podemos encontrar no fundo do mar, o mergulho caracteriza-se também por ser um enorme desafio. Talvez um dos maiores que o ser humano pode experimentar. Isto porque estamos a respirar artificialmente num mundo que não foi feito para nós.
A primeira vez pode ser assustadora confesso. Quando se começa a ver o briefing complexo, a quantidade de aparelhos, avisos, cuidados e sinais que temos de aprender , a mente começa a entrar em pânico. Acho que neste momento toda a gente pensa qualquer coisa como “mas onde é que eu estava com a cabeça quando me meti nisto...”.
A primeira vez que se vai para o fundo do mar de botija de ar às costas, regulador na boca, máscara nos olhos e nariz, acho que todas as células do corpo começam a entrar em negação. Porque efectivamente se vai fazer algo que é contra a natureza  humana: respirar de baixo de água. E aqui a mente começa a mandar mensagens de todos os géneros , “ainda vais a tempo de fugir daqui”, “isto pode correr mal” “isto é mesmo perigoso”. E é. Por isso é que se torna tão interessante. Porque depois de se experimentar a primeira vez vive-se uma sensação de desafio superado. De que transcendemos os nossos limites e os limites daquilo que é possível um humano fazer.

Para mim (por razões óbvias da minha profissão) foi curioso analisar este estado mental agitado pelo medo. E trabalhar para o controlar. Alguns momentos e em  alguns exercícios de treino tem mesmo de se ter uma enorme firmeza e controlo mental.

Depois vem a parte da respiração, e que para mim é igualmente fantástica observar. Como realmente funciona saber usar uma respiração tranquila e serena e como isto pode contribuir para estabilizar as sensações de medo ou pânico. Como podemos usar a respiração para nos movimentarmos dentro de água mais para cima ou para baixo. Como podemos controlar o ar que usamos e tornarmos a respiração mais eficiente.
Uma experiência Yogui debaixo de água!

Mais um desafio que nunca imaginei puder ultrapassar!  Mais um desafio que me mostrou e confirmou como realmente podemos fazer tudo aquilo que queremos e como somos mais fortes e corajosos que imaginamos.

Por isto tudo que acabo de descrever mergulhar foi uma paixão que veio tarde na minha vida. Mas, quero crer,  nunca é tarde para descobrir uma nova paixão!





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