Amritsar, Punjab India
Agosto 2009
Amritsar é uma cidade digna de visita por
duas razões.
A primeira é uma cerimónia muito particular que acontece
diariamente na fronteira entre a India e o Paquistão. Esta é a única fronteira
aberta entre os dois países, que como se sabe tem relações problemáticas há
vários anos. Diariamente ao fim do dia na hora estabelecida de fecho da
fronteira, os dois países protagonizam sincronizadamente um teatro muito
peculiar, em que militares de ambos os lados marcham de forma viril e
aparentemente agressiva em direcção aos portões da fronteira oposta. É uma
dança nacionalista de demonstração de poder e afirmação. O peculiar da
performance, dado que as relações entre os 2 países não são propriamente
amigáveis, é o facto desta se parecer com um banal jogo de futebol ao qual se
vai assistir por puro entretenimento. De ambos os lados há bancadas, e cada
lado da fonteira torce pela sua equipa! Na fronteira da India, onde fiquei, grita-se "Longa vida para a India" ,
do lado do Paquistão ouve-se as bancadas gritarem algo provavelmente idêntico. O
espectáculo processa-se em crescendo, a dança dos militares vai ficando mais
intensa até a um ponto de quase êxtase para alguns populares mais motivados! Galvanizados
gritam e cantam até perder a voz, comparável ao mais esperado derby
futebolístico.
Embora simpaticamente um polícia me
tivesse encaminhado para as bancadas reservadas aos turistas, optei por ficar
no meio dos indianos para puder ter a experiência real. Foi marcante e intenso,
aliás como é qualquer aglomerado de seres humanos juntos a torcer por uma mesma
causa. Alguns momentos um pouco assustadores confesso, sobretudo quando alguns
dos populares mais entusiasmados se exaltavam de modo quase enlouquecido. Mas
no final, ou não fosse a India, acabámos todos a dançar e a cantar, sem
qualquer sinal de agressividade ou loucura.
Qual dos dois países sai vencedor deste
derby, sinceramente não sei, mas pergunto-me se isto seria possível em alguma
outra parte do mundo…
A segunda razão para visitar Amritsar é o Golden Temple (Templo Dourado). Um templo fantástico justamente
comparado ao Taj Mahal, e que torna a cidade o centro mundial da religião dos
Sikhs. É um dos monumentos mais visitados na India e recebe diariamente
milhares de peregrinos Sikhs que tentam pelo menos uma vez na visitar o seu
templo mais sagrado, assim como turistas de várias nacionalidades sobretudo
indianos de outras religiões.
Na cidade (feia e suja como todas as
grandes cidades indianas) já não há vacas na rua, e todos os homens usam
turbante para prender os longos cabelos , um dos símbolos da devoção e religião
Sikh.
Esta religião surge na India numa resposta
ao Hinduísmo (sobretudo ao injusto sistema de castas), e ao islamismo (uma das
mais presentes religiões no país). No sikhismo não há adoração de deuses nem
representações do mesmo, o culto é feito a um livro – O Livro Original - onde
se encontram todos os ensinamentos dos 5 gurus fundadores da religião. O Livro
é guardado no interior do Templo, que tem quatro entradas simbolizando a
abertura do mesmo a todas as religiões e sobretudo às quatro castas da divisão
social Hindu.
É simplesmente maravilhoso visitar este
templo, todo ele dourado, construído no meio de um lago (também ele considerado
sagrado), onde os peregrinos se banham tentando purificar corpo e espírito. O
reflexo do seu dourado na água com a luz do fim do dia, ou com o luar da noite
são imagens que jamais esquecerei. Ao longo de todo o dia, até ao fecho do
Templo os versos do Livro sagrado são recitados em forma de canto, acompanhado
por músicos ao vivo, e todo o som é transmitido por altifalantes por todo o
complexo, criando assim um ambiente muito especial e agradável.
A monumental cantina comunitária do complexo do
templo é de visita obrigatória. A cantina providencia comida gratuita para
todos os visitantes de qualquer religião, cor, casta ou sexo. A partilha de
refeições com estranhos reforça um dos principais pilares do sikhismo: a
igualdade. Cerca de 10.000 refeições de lentilhas e chapati
(pão indiano) são servidas diariamente graças a eficiência dos seus
funcionários e voluntários.
O Templo Dourado mereceu a minha visita por um
dia inteiro. Foi um local onde me senti bem e não dei pelo tempo passar.
Passeei pelas margens do lago, sentei-me a ouvir a música recitando os textos
sagrados e observei a fé dos peregrinos como quando se lê um livro que não se
consegue parar. Fui jantar e voltei à noite, para ver o Templo brilhar com a
lua e assistir à cerimónia do fecho e recolha do Livro. No dia seguinte partia
para Norte. Mas se assim não fosse voltava ao templo outra vez.
Talvez seja simplesmente natural sentirmo-nos
bem na casa de Deus. Qualquer que seja o nome o e a forma que lhe dermos.
Qualquer que seja o nome o e a forma que lhe dermos......... (é bom ter algo em que acreditar, muito bom)
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