sexta-feira, 20 de abril de 2012

(India) Janela para o Ganges


Rishikesh, India
Agosto 2010

Hoje quero dormir com a janela do quarto aberta; a luz de dentro acesa.
Não vou ter medo dos mosquitos. Quanto mais medo temos mais eles aparecem. São assim os nossos medos, quanto mais os ignoramos mais eles perdem a força, e por vezes deixam mesmo de existir.

Por isso hoje não vou ter medo que os mosquitos entrem no meu quarto. Estou inspirada para escrever e preciso da luz acesa. Mas não posso deixar de ter a janela aberta porque tenho a minha frente a mais maravilhosa das paisagens.

O Ganges. Sagrado, poderoso, como qualquer manifestação do Divino.
Hoje está tranquilo o Ganges. A Monção dá-lhe força, enche-o de água e de determinação em chegar ao seu destino no outro extremo da Índia. Esta determinação é por vezes assustadora de tão ponderosa, e arrasta na sua corrente tudo o que se atravessa no seu caminho. Esta é a sua natureza, de Rio.

Mas hoje o Ganges está tranquilo e a noite está mais linda que nunca. A Monção deu tréguas, ainda que apenas por umas horas.

O rio esta tão perto da janela do meu quarto que adormeço e acordo com a sua melodia. É tão especial quando de madrugada o som do Ganges se mistura com o som dos sinos dos templos que chamam para a oração da manhã.

Na outra margem, vejo as luzes dos ashrams e dos templos, Rishikesh já dorme. Vejo os Himalaias, (onde moram os Deuses segundo a tradição Indiana) que sempre se misturam com as nuvens e nos fazem perder a noção da altitude. Também da janela do meu quarto vejo a  ponte de Ram Jhula que liga as duas margens. De  noite  há sempre uma bruma sobre o rio e por vezes a ponte parece misteriosamente suspensa no ar. De dia, a ponte cede passagem a centenas peregrinos que vêm a Rishikesh para se purificarem nas águas sagradas do Ganges. Na travessia da ponte tudo e todos se cruzam, sem uma ordem aparente, Ou melhor dizendo, numa aparentemente caótica desordem. Os Gurus e homens santos que renunciaram à sociedade e família;  os peregrinos que cantam místicos mantras sagrados; as motos que para contrastar buzinam desesperadamente; os Saris coloridos das mulheres que vão e voltam dos mercados, as vacas que por serem sagradas podem andar por onde lhes apetecer; os outros como eu que por aqui andam…. E por vezes somos tantos que a ponte pára e entope. Para um lado e para o outro. É assim por toda a Índia: Pessoas. Muitas e muitas pessoas juntas.

Mas voltando à janela do meu quarto, além de tudo isto, hoje vejo também a lua, que está cheia e simplesmente maravilhosa.

Momentos que nenhuma câmara consegue captar,  que uma caneta pode apenas tentar relembrar, mas só mesmo a memoria pode guardar. Momentos que me fazem agradecer, o privilégio de estar viva, de estar na Índia, de estar feliz.

Por isso, hoje perante tal dádiva para os olhos e para a mente vou dormir com a janela aberta. Vou adormecer a olhar para este presente da Índia para mim.

E porque a felicidade nunca é total se não for partilhada, aqui fica a minha partilha:
Vou abrir a janela do meu quarto, a janela do meu coração, da minha alma. Para que entre toda a felicidade e amor e para que pela mesma janela possa sair e possa eu partilhar o mesmo amor com todos você que de alguma forma se cruzam na minha vida
Para a vida fluir temos que deixar a janela aberta.

Partam os vidros, tirem as trancas, deitem fora os cadeados e, nem que seja por uma noite, abram a janela do vosso coração. Mostrem a verdadeira essência do vosso ser, o vosso eu ao mundo e o mundo vai-se abrir também, com tudo o que de maravilhoso tem para dar.
E para todos (e tantos!) pedidos de mais uma crónica de viagem, aqui ficou a minha partilha. Desiludidos os que esperavam outro tipo de descrição das minhas viagens na Índia? Guess what? A INDIA É ISTO MESMO. A maior de todas a viagens que alguma vez poderemos fazer: A INTERIOR!

4 comentários:

  1. Olá Rita, vejo que tambem estas infectada pelo virus da vida na India !! Gostei de ser relembrado destas gentes e sitios magicos. Assisti ao Dalai Lama nesta tua foto (onde aparece a estatua de Shiva) tambem em 2010, abril, Kumbamela !!
    bjs e boas inspirações, Miguel (4ventos)

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  2. Miguel é verdade a India é única e eu sou viciada nela :) Rishikesh é o meu local favorito.
    Não sabia que tinhas estado no Kumbamela... posso imaginar a experiência! Tens de me contar um dia. Beijo grande e até breve.

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